Principal tarefa para a política econômica em 2014 é recuperar credibilidade.
A inflação apertou o orçamento das famílias, já endividadas como nunca.
O comportamento da economia brasileira no ano que está terminando
decepcionou investidores e grande número de analistas. A principal
tarefa para a política econômica em 2014 é recuperar a credibilidade.
O Brasil levou décadas para conquistar a confiança de investidores e
agências de risco. Isso nos colocou na capa da revista de economia mais
influente do mundo, a The Economist, em 2009. O Brasil decolava, um
retrato do país que durou anos, até 2013.
“O governo iniciou o ano com uma manobra contábil, vamos dizer assim,
nas contas publicas, reduzindo a transparência da execução da política
fiscal, e isso ao longo do tempo foi minando a credibilidade da política
fiscal”, explica Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
A manobra foi reduzir o tamanho da poupança do Governo Federal para
pagar juros da dívida. Era 3,1% do PIB, mas passou para menos. A chamada
"contabilidade criativa", expressão mais repetida entre economistas em
2013, ajudou a derrubar o valor dos nossos ativos.
“Os títulos públicos tiveram uma perda superior a R$ 200 bilhões. Os
preços das ações na bolsa caíram 60, 70 bilhões de reais, aqueles
contratos que você vê lá fora, que medem o risco do país. Para você ver,
um ano atrás, o nosso risco era bem parecido com o do México. Hoje o
nosso risco é muito superior ao risco do México”, diz Luiz Fernando
Figueiredo, ex-diretor do Banco Central.
Enquanto a imprensa internacional colocava em cheque a estabilidade do
Brasil, até então menina dos olhos dos investidores, os cadernos
brasileiros de economia noticiavam a disparada do dólar, contida ao
custo de uma atuação pesada do Banco Central no mercado de câmbio.
Inflação e mudança na política monetária, que voltou a apertar a
atividade com alta de juros. Depois de anos de tranquilidade, 2013 veio
apresentar a conta.
A inflação apertou o orçamento das famílias, já endividadas como nunca.
Em abril, a culpa era do tomate. A fruta tinha subido quase 150% no
acumulado de 12 meses. Virou o símbolo da alta de preços puxada pelos
alimentos.
A projeção para o IPCA do ano ultrapassava a meta do governo quando o
comitê de política monetária começou a subir os juros. De abril a
novembro, a Selic saltou de 7,25% para 10% ao ano.
“Aparentemente o Banco Central recuperou sua autonomia, sua iniciativa.
Porque a inflação começava a causar danos políticos irreversíveis para o
governo”, diz Gustavo.
Em junho, o reajuste das tarifas de ônibus colocou fogo na discussão.
Na virada do semestre, o dólar disparava. Nem o ministro da Fazenda
arriscava onde a moeda americana poderia parar,
Já no fim do ano vieram algumas boas notícias. O Banco Central dos
Estados Unidos anunciou um corte gradual da política de incentivo à
economia americana. Isso afastou do horizonte de 2014 a chamada
"tempestade perfeita", a combinação de uma fuga de investimentos e de
uma possível perda do grau de investimento, aquele que levamos tanto
tempo para conquistar.
Além disso, o governo cedeu importantes rodovias e aeroportos à
iniciativa privada. “Isso é fundamental, porque o Brasil tem uma
carência de infra-estrutura. E é a pobre infra-estrutura do Brasil, as
dificuldades de infra-estrutura são parte do custo Brasil, que impede
nossa economia de ser mais competitiva internacionalmente”, garante o
ex-presidente do Banco Central.
Não que o risco ainda não exista, mas evitar parece só trabalho nosso.
“Se tem uma lição importante esse ano é que não é difícil. Nós
precisamos agora gerar alguma confiança para que o Brasil volte a ter um
ambiente de mais estabilidade”, diz Luiz Fernando Figueiredo.
Fonte:http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2013/12/economia-brasileira-no-ano-de-2013-decepcionou-investidores-e-analistas.html